terça-feira, 9 de novembro de 2010

Entrevista com ex-marido de Dilma Rousseff


uarta-feira, 13 de outubro de 2010
No mundo de patifarias da burguesia, amizade do ex assusta

De O Globo
Em casa nunca teve murro na mesa’
O advogado Carlos Araújo, de 72 anos, é só elogios à ex-mulher, Dilma Rousseff; inclusive sobre seu temperamento forte

O GLOBO: Quando e onde o senhor conheceu Dilma?
CARLOS ARAÚJO: Em 1969, no Rio, numa reunião. Ela era da Colina, e meu grupo não tinha nome. Com a fusão, virou o Var-Palmares. Ela tinha 19 anos e eu, 30. Na segunda reunião, já estava apaixonado. Um mês após, estávamos morando juntos. Ela era linda, um espetáculo! Esse negócio que falam de amor à primeira vista, né?

O que mais chamou sua atenção em Dilma?
CARLOS: Ela ser tão jovem e tão entregue à luta política. Uma inteligência muito forte e pujante. E sua beleza.

Que música marcou a relação?
CARLOS: Rita, do Chico Buarque. Namorávamos, às vezes, no apartamento em que a gente ia, mas a gente não podia ficar por questão de segurança. Namorávamos em praças, bairros mais retirados. De vez em quando ali por Ipanema, Jardim de Alá.

Mas ela já era casada (com Claudio Galeno Linhares)…
CARLOS: Mas só formalmente, o casamento já estava se desfazendo, não conviviam mais, viviam foragidos. Quando nos conhecemos, ela falou para o marido que íamos viver juntos. Eu e o marido dela ficamos amigos, militamos juntos. Ele foi para o exterior, se casou, teve filhos. Em 76, voltou e veio morar na minha casa. Eu o abriguei por um bom tempo.

Moraram os três nesta casa?
CARLOS: Eu e Dilma morávamos aqui. Ele veio com a mulher e os filhos.

Não tinha ciúmes?
CARLOS: Podia ter ciúmes de outra situação, não dele, cada um já tinha seu rumo. Sou um bom ex-marido. Falo bem da Dilma, não é? Não falo mal.

Nesses 30 anos de convivência, em que momentos ela era mais brava e mais delicada?
CARLOS: Não existe pessoa mais ou menos brava. Dilma sempre teve temperamento forte, é da personalidade dela. O que tirava ela do sério era deslealdade, falta de companheirismo, a pessoa não ter palavra, dar bola nas costas. Não sei como ela faz lá (em Brasília). Aqui em casa nunca teve esse negócio de dar murro na mesa.

Quem mandava na casa?
CARLOS: Nossos parâmetros não eram esses, de quem manda, não manda. Éramos companheiros. Não era nosso estilo um mandar no outro. Foi uma bela convivência. Tivemos uma vida boa juntos, tenho recordação boa, não é saudade.

Como foram as prisões?
CARLOS: A dela foi em São Paulo. Ela foi presa sete meses antes de mim. Eu estava no Rio.

Como ficou sabendo?
CARLOS: Quando ela foi presa, a primeira coisa que fiquei sabendo foi seu nome verdadeiro, que não sabia durante o ano que vivemos juntos. Naquele tempo, eles publicavam o nome, de onde era, filho de quem, logo em seguida. Soube que ela se chamava Dilma porque vi lá: filha de fulano, mineira. Até então, a única coisa que sabia dela era que era mineira. Pela regra de segurança, ninguém sabia nada de ninguém. Ela também não, sabia que eu era Carlos.

O senhor é confidente dela?
CARLOS: Não. Sou amigo. Minha vida com a Dilma é uma vida não-política. Quando o Lula acenou para ela, ela veio conversar comigo e Paula. O que vocês acham? Ela não tinha dúvida, queria conversar. Disse que estava em condições, que ia se preparar da melhor forma possível. Não titubeou, nem tinha receio. Pelo menos, não revelou.

Aí veio a doença…
CARLOS: Nos pegou desprevenidos. Quando ela falou a primeira vez, ficamos muito emocionados, sensibilizados, preocupados. Mas ela disse: tudo indica que é benigno. Ela disse que tudo indicava que não era maligno, mas sentia energia de enfrentar a situação mesmo que fosse o pior. A gente só pensou em dar carinho e ser solidário.

Temeram pela campanha?
CARLOS: Não. Mesmo porque quando vieram os resultados, que era benigno, que era curável rapidamente, com equipe de bons médicos… Não era maligno. Ela fez quimioterapia para cortar aquele quisto, para não se tornar maligno.

O que o senhor sente ao ver na internet que a Dilma é uma perigosa ex-terrorista?
CARLOS: É a baixaria dos que apoiavam a ditadura para prejudicá-la, para ganhar no tapetão. O que ela tem de perigosa? A Dilma nunca pegou em armas. Não era o setor dela.

E qual era o setor dela?
CARLOS: Era o mais político, de organizar movimentos, preparar o pessoal, fazer propaganda. Desde quando pegar em armas é terrorismo? A gente tem orgulho do que viveu, era uma jovem corajosa, desprendida, entregando sua juventude, sua dor. Foi para a luta achando que ia morrer. Muita coisa que fizemos foi equivocado politicamente, tudo bem. Mas isso é outra coisa.

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